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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O peixe e a árvore

Desde muito criança sempre tive muitos peixes, o tipo ideal de animais, fica dentro de uma caixinha de vidro cheia d'água (vulgo aquário) sem encomodar ninguém, sem fazer barulho, sem fazer sujeira. Meu pai sempre foi um grande admirador de peixes, sempre que eu pedia um cachorro ele me dava um novo peixe e assim foi minha vida até a separação dos meus pais. Quando ele mudou-se de casa o meu primeiro pedido foi um cachorro, com um pouco de atraso o cachorro chegou e outro cachorro chegou, totalizando duas cockers. Para uma criança acostumada com peixes ter um cachorro foi uma grande mudança, cachorro te lambe, te segue, te acorda quando quer comida, bagunça a casa, late, chora, estraga os seus chinelos quando são filhotes, precisam de banho, tosa, sair para passear. O costume (e o trabalho) com cachorros faz com que peixes pareçam brinquedinhos. Há muito tempo nenhum peixe entrava em minha casa até o dia 27 de junho, dia no qual ganhei um peixinho beta de uma amiga na festa junina da minha escola de inglês, no começo foi uma grande impolgação, escolhi o nome coloquei num aquário e alimentava regularmente até que a impolgação passou e eu simplesmente esqueci da existência do peixe chamado Vania. Esqueci de sua existência até ontem.
Ontem a noite cheguei e fui ligar a tv, o aquário fica ao lado dela, uma coisa estava estranha, o aquário estava vazio aparentemente, só aparentemente, o peixe estava morto e preso perto da bomba de oxigênio. A minha primeira reação foi uma tristezinha, daquelas "Perdi o filme que eu queria ver na tv, que triste" mas isso passou rápido, bem rápido, no fundo eu nem notava a presença dele, o peixe era a indeferença, cada um de nós em relação ao mundo, o mundo é indiferente a mim assim como eu era ao peixe, talvez esse fosse o mecanismo que eu utilizava para me vingar do mundo, ser indiferente ao pobre peixinho e o peixe por sua vez também era indiferente a mim, eu era apenas a pessoa que o alimentava quando minha irmã não o fazia. Hoje de manhã fui fazer o ritual de despedida para o peixe, enterrá-lo na planta, uma mini-árvore para ser exata, e esvaziar o aquário. Só hoje percebi o quanto o aquário era grande para um único peixe beta, mas isso não vem ao caso. Todos estão agora se perguntando "qual é o lado bom da morte de um peixe?" Da morte em si, nenhum. Da situação foi o aprendizado. O que não pude parar de pensar foi em como fui indiferente à um ser vivo, a um ser vivo como qualquer um outro, o que o difere das minhas cachorras é apenas a anatomia, apenas a anatomia é o que difere ele de mim. Acho que não me importar com o peixe, que não tem mais ninguém no mundo, me faz perder o direito de querer que as pessoas se importem comigo, não se pode exigir dos outros o que não se pode dar a eles, não me importar com o peixe foi o auge do que se pode chamar de atitude desumana.
Enfim, há situações nas quais o lado bom não está imbutido esperando que você aperte um botão para que ele salte e diga "Surpresa!", não. Muitas vezes o lado bom de algo está na mudança que ele proporciona a você, um novo ponto de vista que essa situação te apresenta, isso sim é o lado bom, na verdade esse é o lado ótimo, porém isso que eu chamo de "lado ótimo" não é tão fácil de ser encontrado pois ele está dentro de você mesmo e é realmente difícil tirá-lo de lá. Hm, uma nova maneira de pensar sobre os animaizinhos que vivem submersos em água é o que eu ganho com a morte do meu peixinho vermelho. Ah, minha mãe ganhou mais espaço na prateleira da cozinha esse foi o "lado ótimo" para ela.


Queria agradecer os comentários, todas as sugestões e críticas foram ótimas para o desenvolvimento do meu blog. Obrigada, gente! e voltem sempre :)

10 comentários:

admin disse...

"Vocês querem saber porque esta história acabou? Por que eu gosto muito de dar ordens. Se as coisas são saem do jeito que eu quero, eu mando aumentar a Guitarra, mando abaixar a Guitarra, mando fazer isso... Mas isso você não pode fazer. Principalmente no amor. Eu nem sei direito o que é o amor. E você não pode ter uma relação de força, de poder. Sabe, tem que ser uma outra coisa. E eu já sofri muito na vida por causa disso, sabia? Tanta gente já foi embora da minha vida por causa disso. Porque eu sou mandão, "com a melhor das intenções"."

Renato Russo, Parque Antártica, 12 de agosto de 1990

Gabriel Pozzi disse...

hey :)
muito bonito o post, tem frases muito impactantes como "apenas a anatomia é o que difere ele de mim"... essas situações tristes nos tornam mais maduros, e dependendo do caso, mais humanos, como a morte de seu peixinho...
se bem que eu nem sei mais qual o lado bom de ser um "humano"... se for ver o comportamento do homem hoje em dia, cada vez mais a indiferença à vida alheia é acentuada...

é sempre bom ver pessoas com o coração puro que tem consciência da importância da vida, mesmo tendo que passar por situações ruins para "aprender" isso...

e eu me importo com você, se dê esse direito u_u

Equipe TKS disse...

seu blog ta muito legal, os textos tem sentido e me trazem lembranças que eu nem melembrava mais...
adorei e vou visitar sempre

www.os-toskonautas.blogspot.com

Unknown disse...

OPbrigada pela visita no O Guia de Paris! Fico contente q gostou, inclusive acabei de postar uma msg no site do teu namorado dizendo q tinha gostado do teu blog tb!

bjkas e sucesso pra gente!

Luiza
www.oguiadeparis.blogspot.com
www.bobogema.blogspot.com

Unknown disse...

Adorei seu blog, gosto mais ainda qnd vc mistura ingles no meio das frases.
Quanto ao peixinho, tadinho, eu nao queria mesmo te-la como dona...ja' tive um, o meu se chamava jose e eles tiveram o mesmo fim.Espero ser melhor como mae.

Guilherme Bayara disse...

Que gracinha o post. Não espera que a se chegasse ao ponto do respeito a vida!
Muito bem escrito e uma bela analogia ^^

Anônimo disse...

As pessoas só dão conta da vida na iminência de perda... ou na perda completa dela...

Eu amo meus peixes hauahuahuah tenho um beta e 4 kinguios...e uma tartaruga também... claro que não todos no mesmo aquari hahah...meus peixinhos são foda...=P


Obrigado pela visita no meu blog..

http://catalepsiaprodutiva.blogspot.com/

Rubens medeyros disse...

Ahn, peixes são tediantes... rs mas dizem que são terápicos.

Abraços.

Unknown disse...

poxa, nunca tinha vindo aki.....
Ja disse q sou sua fã?
eu sou sua fã.......
;D

Unknown disse...

Parabéns... otima postagem
PAZ!

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